Com alguma frequência tenho procurado fazer vingar esta ideia e tenho a certeza que ela começa a ser cada vez mais necessária de enraizar na cabeça dos praticantes que todos os dias saem para a rua com o intuito do “beat yesterday”, “beat yourself”, “just do it”, “no shortcuts” e outros tantos chavões cliché.
Estou cansado de ver praticantes desgastados fisicamente, lesionados e no limiar da depressão desportiva tudo porque se convenceram que são atletas depois dos 30.
Levar um desporto a sério e de forma regrada não chega para se considerar um atleta. Seria como dizer que alguém que faz uma dieta regrada passa a ser nutricionista.
Mas por alguma razão dizer isto melindra, belisca o ego.
A maior parte das pessoas que hoje seguem este estilo de vida de desporto fervoroso com planos de treinos rígidos e restrições alimentares às vezes insólitas, está a deixar escapar aquilo que poderiam ser os melhores anos da vida deles na modalidade que escolheram para ser saudáveis.
E é a propósito disto que escrevo, saúde.
Só depois de a perdermos é que damos conta do quento nos faz falta, do quanto desvalorizamos o que tinhas e como tínhamos e quanto trabalhamos para a perder sem saber que o fazíamos.
O ciclismo é uma actividade física incompleta.
E não imaginas como me doeu na alma escrever esta frase e admitir que a modalidade que eu abraço como paixão e como profissão não é perfeita. Mas contudo está longe, a léguas, diria mesmo a anos-luz de distancia de modalidades de culto que surgiram com a promessa de resolver problemas do aparelho músculo-esquelético (ME) e que estão precisamente na origem de sérios problemas no mesmo.
A população salta de anos de sedentarismo para os ginásios e tão depressa quanto largam o comando da televisão estão a levantar pesos, fazer repetições, intensidades e cada vez mais pesos e mais repetições e sem que dêem por ela, estão sentados no consultório médico.
Há uma alteração na composição corporal, mas as lesões nestas modalidades chegam aos 75% e destas, 7% necessitam de intervenção cirúrgica.
O problema é a actividade física desproporcional e sem conhecimento de causa.
Educar para o desporto não é só por os cidadãos dentro dos ginásios, é fazer compreender que o objectivo da actividade física é proporcionar saúde.
Eu diria que, comparado com estas actividades desportivas, o ciclismo passa por ser perfeito!
Uma bicicleta adequada e bem ajustada permite ao praticante uma repetição de movimento com uma reduzida probabilidade de lesão. Sem contar com as que podem ocorrer por queda e que estão apenas dependentes da capacidade técnica do praticante, ou no caso do ciclismo de estrada, da interacção como meio envolvente (transito e automobilistas).
A falta de impacto do ciclismo, a repetição do movimento excêntrico e concêntrico dos membros inferiores e a par, a fraca utilização dos músculos do tronco, sobretudo no ciclismo de estrada, torna necessária a realização de trabalhos fora da bicicleta.
A falta de impacto pode dar origem a ossos finos e fracos, má estruturação do cálcio. O movimento repetido promove o encurtamento muscular, o que poderá originar desconforto, microrroturas, ou tendinopatia. A fraca utilização do tronco, ou core, como os fãs da anatomia de Grey gostam de lhe chamar, dá origem a lombalgias, ou hérnias devido a descompensações musculares.
O atleta tem um plano de treino que cobre todas estas variáveis. No entanto como só o vêm em cima da bicicleta, consideram que tudo que é preciso é pedalar.
O iceberg tem uma massa desproporcional abaixo da linha de água, que lhe permite ter alguma massa de gelo acima desta. Só por que não temos as ferramentas para compreender o que se passa debaixo de água, não devemos acreditar que tudo o que existe é tudo quanto vemos.
O que falta? Falta educação!
Boas pedaladas 😉