Chegou ao pé de mim a queixar-se de uma lombalgia terrível. Vinha de dois bikefits anteriores, muita descrença no serviço, mas, nas palavras do próprio:
“não há dois sem três”
“E o selim?” – Pergunto eu.
“Já tive uns 4 ou 5, se não estou em erro. Foi só gastar dinheiro! Mas o que tem isso a ver com as dores de costas?” – Responde
“TUDO!” – Respondo.
-“Mas nunca me falaram nisso (…) porquê?” – continuou a conversa por ali fora e também o trabalho…
Mal entrou com a bicicleta no gabinete e só de olhar para ela, era capaz de garantir que aquele praticante gemia de dores nos lombares.
É que não consigo olhar para alguém sem começar a avaliar a postura, da mesma maneira que não consigo olhar para um ciclista sem começar a tirar as mais diversas conclusões.
Neste caso, a bicicleta apresentava-se já com um selim Specialized Power, que por acaso é um dos selins que pontualmente recomendo. Mas estava mal colocado, tão mal, que era perceptível a olho nu sem o auxílio de qualquer ferramenta.
É preciso respeitar a característica técnica de cada modelo em questão, é que no ciclismo há uma série de mitos e um deles, é que por alguma razão, todos os selins devem ser colocados horizontalmente.
Fiz o trabalho habitual, uma outra correcção menor, ao que seria a fundamental: a posição do selim.
Selim devidamente ajustado e passamos à validação de posição no terreno. Pois só depois de testada a posição na estrada, é que se pode dar o bikefit por concluído.
Alguns milímetros aqui, uns tantos ali e outros tantos acolá, com uma significativa alteração à posição do selim e pronto! Adeus dores incapacitantes.
Mas como é que um selim pode provocar lombalgias?
Só menos de metade dos praticantes que passam por mim nas consultas de biomecânica e bikefitting é que saem do gabinete com “receita” para trocar de selim; os demais salvam a alma e o corpo apenas com o ajuste do selim que trazem, tal como no caso mencionado.
Mais de 80% dos casos de lombalgia que passaram por mim, tinham origem no selim, sendo isto distribuído entre alturas excessivas, ou modelos de selim inadequados para o praticante e a explicação é muito simples de dar.
Se não leste, ou já não te recordas, dá uma vista de olhos por um dos artigos anteriores (link) e depois vota a este mesmo ponto.
Viste, ou recordaste a forma com se mede um selim? Pois! Aqui começa o problema.
A base mínima de apoio, por si só, é funcional quando o tronco se encontra na vertical! À medida que flectes o tronco à frente, começas a elevar os ísquios dessa base e a pressão começa a passar para o períneo.

O selim certo, com uma flexibilidade saudavel, permitem ao praticante ter uma posição relaxada e sem sacrificio em cima da bicicleta.
Mas à medida que o praticante se aproxima do guiador começa o problema. Para manter o apoio dos ísquios, num reflexo defensivo, o praticante mantem a bacia na mesma posição (vertical), aproximando apenas a parte superior do tronco.

O conflito com o selim, ou a falta se flexibilidade do praticante, impedem uma posição confortável e funcional do pronto de vista de performance.
Nesta situação de flexão à frente, é preciso salientar que pode haver outra origem nesta limitação. A flexibilidade do praticante tem muita influencia na posição.
Quando em plena avaliação biomecânica, a forma que encontro de determinar se o problema está no conflito com o selim, ou se se trata de pouca flexibilidade, realizo um pequeno e simples teste, que depois é confirmado com o movimento.
Pois numa avaliação biomecânica com o sistema Motion Capture, é possível analisar ambos os lados do praticante em simultâneo e qual a reação muscular à carga durante a pedalada.
Cada caso é um caso e embora a falta de flexibilidade entre os praticantes de ciclismo seja um problema digno de reflexão, a falta de atenção aos selins é de momento um problema maior.
Há uma revolução ergonómica nos selins, parece que os fabricantes acordaram para a necessidade de respeitar a fisiologia dos praticantes, ao invés de apenas pensar em peças esteticamente bonitas e leves, mas totalmente disfuncionais.
A flexibilidade tem muito mais influencia na selecção do selim, do que a largura dos ísquios algum dia teve, mas as duas avaliadas em simultâneo e com alguns testes de confirmação pelo caminho são a chave para o sucesso na selecção do selim às primeiras escolhas.
Infelizmente, ainda são poucas as marcas e menos as lojas que proporcionam aos clientes e praticantes serviços profissionais de aconselhamentos biomecânicos, ou simples testes de selins.
Até ao dia em que isso seja a maioria, sofram da carteira, e das lombalgias. Ou não!
Boas pedaladas.
By Pedro Silva
sem duvida a flexibilidade vai influenciar a posicao e a forma como pedalar, lutar contra um selim e lesao quase na certa se lutar por longos periodos.
olha, ate aquela do ido portal ja dava um bom mote para a malta comecar a trabalhar o esqueleto que neste pais o que nao falta sao amadores domingueiros a exibir as bicicletas compradas a credito e KOMs no strava. depois encostam as ditas porque doi isto e aquilo e o ibuprofeno nao salva ninguem!
ganhar juizo tambem faz bem ao corpo e alma, ja dizia o antonio variacoes “o corpo e que paga”