“Em tempos um feiticeiro foi contactado por um sapo careca. O sapo disse ao feiticeiro que queria que este o transformasse num poderoso crocodilo, era uma questão de alguma magia, não muita porque “ele” era um sapo cheio de potencialidades
O feiticeiro tentou convencer o sapo de que poderia fazer dele um excelente sapo, mas nunca um crocodilo.
O sapo careca, ofendido com o achava ser uma diminuição da sua pessoa, deixou o feiticeiro e foi procurar outros, mais competentes para o trabalho, afinal de contas, um crocodilo era tal como ele, um réptil e certamente muitos crocodilos já teriam sido sapos achava ele.
Uns feiticeiros ainda o iludiram com artimanhas e falsas promessas, mas no desespero de que ainda não deixara a pele de sapo, o prepotente sapo careca, abandonou todos eles e tratou ele de comprar livros de magia para que ele próprio tratasse de se transformar num crocodilo.
Só ele não sabe, que um sapo careca, será sempre um sapo careca, por muito que sonhe em ser um crocodilo!”
Não seria necessário recorrer a uma parábola e somente usar a expressão popular que diz, que “Quem nasceu para cinco, nunca chegará a dez”?
De uma forma muito simples, ambas procuram afirmar o mesmo, que por muito que seja o esforço investido, há transformações que nunca acontecerão, estamos limitados à partida.
No entanto, com muito frequência caimos no erro fácil de usar os melhores como padrão de comparação, mas os melhores tem algo mais, tem a genética que lhes permitiu chegar lá chegar onde chegaram. É verdade que a dita genética não é tudo, mas verdade é também que sem esta, são apenas esforços em vão.
Pode até parecer cruel, mas é a mais pura verdades!
Por muito que treine, a esmagadora maioria, nunca vai andar como o Chris Fromme, ou como o Nino Shurter, por uma razão muito simples, eles já nasceram para ser campeões, está no código genético deles escrito, que com o trabalho certo, eles tinham as características para serem elementos dominantes em determinado desporto.
Não é caso para se sentir ofendido, ou mesmo diminuído se entender que é um sete, um seis, um cinco, ou até mesmo inferior a isso. Veja a coisa desta forma:
Se houvesse um concurso na sua região de pessoas com olhos azuis, estaria dentro ou fora?
Só por ser de origem latina, probabilidades são de que estaria fora, mas certamente lhe ocorre alguém conhecido que poderia concorrer. Essa pessoa tem uma característica diferente da sua, nem melhor, nem pior, diferente que lhe permitiria corresponder aos requisitos de determinado concurso. Pense que se o concurso fosse para pessoas de olhos castanho, essa mesma pessoa estaria também ela excluída à partida e você dentro do jogo.
A cor dos olhos é fácil, é algo que pode ver, mas as características para este ou aquele desporto raramente são assim tão perceptíveis, fáceis de identificar e mesmo depois de identificadas, ainda precisam de ser aprimoradas, ou como gostamos de lhe chamar: treinadas.
A grande questão aqui é a genética, no momento da sua concepção e salvo alguma anomalia no parto, ou durante a infância, ficou “escrito” no seu código genético as características físicas e fisiológicas, das quais fazem parte a cor dos olhos, do cabelo, a estatura e também a resposta dos órgãos ao exercício, ou adaptações.
Não é por jogar basquetebol na infância que será mais alto e também não é por pedalar muito que será um ciclista de elite (não pelo menos no diz respeito ao indurance), se isso não estiver escrito no seu código genético.
Quando falo com alguém sobre treino, ou biomecânica vem sempre à baila os pelotões profissionais e os seus ciclistas. Obviamente que os melhores são sempre uma referência, são o standart da modalidade, são eles que marcam o compasso do que é possível, são eles que quebram as barreiras, são eles quem nós queremos ser. É normal, mas na verdade para a grande maioria do ciclista de lazer e até mesmo para muitos que andam em competição amadora, aqueles são um grupo muito restrito, uma verdadeira selecção muito criteriosa do melhor que a natureza produziu e que o homem aprimorou com muito treino.
Fazem parte de um exclusivo clube de códigos genéticos aprimorados pela natureza para aquele desporto, para aquela actividade física, parece que nasceram com o dom de pedalar forte e por muito tempo. Mas se em vez de ciclismo, falarmos de judo, os requisitos já são outros, lembra-se do concurso de olhos azuis?! Estes grupos tendem a ser muito homogéneos nas características e capacidades fisiológicas, foi uma selecção de eliminação até chegar-mos aquele refinamento humano que constituiu os pelotões de elite, o CICLISTA de ELITE.

A genética por si só não garante absolutamente nada, é preciso um trabalho refinado e concreto para converter o potencial genético em mecanismos que sirvam o interesse e o propósito da atividade/desporto. São precisos anos de treino para se atingir o potencial genético.
Acaba por ser fácil, dizer se alguém é um 5, ou um 10, porque basta analisar o perfil do praticante e valores do mesmo e ver se ele se enquadra próximo dos padrões daqueles atletas, da elite. Poderá não enquadrar-se naquele grupo de elite, mas acredite que há um grupo ao seu alcance.
Hoje é consensual de que nos desportos de endurance, um bom VO2Max* é determinante, já não é tão consensual quanto isso a sua treinabilidade. Enquanto uns defendem que o VO2Max é razoavelmente treinável, outros defendem que esta característica é pouco, ou até mesmo nada treinável.
(*VO2Max é a quantidade máxima de oxigénio que o organismo consegue captar, transportar e utilizar durante exercícios de alta intensidade)
O desporto é inclusivo, mas a alta competição é exclusiva. Significa que todo o ser humano pode e deve praticar desporto, ter uma actividade física desportiva e mesmo a competição deverá ser considerada por todos devido aos estímulos e ao domínio que proporciona ao individuo, sem excepção, é salutar e desenvolve capacidades. No entanto competição e alta competição são coisas distintas. A competição ao mais alto nível é exclusiva, é eliminatória, isto significa que decorre um processo em que os indivíduos que não correspondam aos padrões, que não sejam capazes de cumprir a tarefa conforme exigido em tempo útil, vão sendo eliminados, ficam pelo caminho.
E não se esqueçam que “alta competição, não é saúde”!

Nem todos os potenciais genéticos são descobertos. Isto porque nem sequer praticam desporto, ou se perdem no processo, ou porque não reúnem outras capacidades para chegar a atletas de elite.
Alguém que sofra de nanismo, sabe à partida que não será jogador da NBA, a não ser que seja criada uma liga onde sejam agrupados jogadores com estas características. Tal como a estória do “sapo careca”, ou o hipotético concurso dos olhos, são situações fáceis de analisar ao comum dos mortais, no ciclismo acontece o mesmo quando alguém mede o VO2Max de um praticante, quando faz um teste e analisa a potencia debitada no limiar de lactato e sabemos a que nível corresponde aquele praticante, quais os seus pares.
Por muito que treine, bem, a esmagadora maioria de nós nunca chegará a atleta de elite, principalmente se tivermos começado a praticar desporto depois do fim da adolescência, até porque mesmo que tenha “a genética”, um atleta de elite não é só “a genética”, é toda a formação e aprimoramento da mesma. Como disse uma vez, pode ter o melhor diamante bruto do mundo, que se não for lapidado com mestria e paciência, é apenas uma pedra baça com potencial para ter sido uma jóia.
Pode nunca chegar a 10, mas se treinar bem, pode muito bem ser um excelente 5,9.
Mesmo que não pedale para ser campeão do mundo, pedale sabendo que amanhã pode ser melhor do que aquilo que é hoje e no final de cada volta, sinta-se feliz por pedalar, tão feliz como Chris Froome quando chega ao Campos Elísios vestido de amarelo.
Boas pedaladas 😉
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