O exemplo pode vir de qualquer lado, de qualquer pessoa, em qualquer altura, em qualquer lugar.
Apenas a arrogância, a ignorância, ou a falta de modéstia poderá não aceitar isto.
Ser ciclista é uma forma de vida, um estilo, uma personalidade, uma opção que se toma consciente, ou inconscientemente. Certo que concordarão comigo e que isto poderia levar a uma longa e profunda reflexão sobre o que leva cada um de nós a suportar esta modalidade.
Em 2013, o Rafael foi ao encontro Nacional de Escolas de Ciclismo que se realizou em Mangualde, o seu primeiro encontro de escolas, aquele que é o evento máximo das escolas de ciclismo. Correu, de acordo com a sua idade e como manda o regulamento da Federação, como Infantil de segundo ano. Este era na verdade o culminar do seu primeiro ano como praticante de ciclismo, ano esse que havia começado apenas em Fevereiro desse mesmo ano.
Em Fevereiro desse ano, estava já eu inserido na União Ciclista de Vila do Conde, à altura, em que se decidiu realizar uma prova aberta a todas as crianças, denominada: “I Troféu Junior”. Nessa altura o Rafael jogava futebol no clube local onde moramos, com alguma insistência minha para que ele experimentasse , ele lá cedeu à experiência. Fez a prova e terminou em penúltimo.
Jamais me passaria pela cabeça, o que se passaria a seguir.
Nesse mesmo dia, nessa mesma manha, na viagem de regresso a casa, o Rafael disse que queria ficar a praticar ciclismo (BTT). Tendo em conta o resultado fiquei perplexo. Reagi com cautela, mas a firmeza dele foi tal, que disse mesmo que já nem queria ir ao próximo treino da equipa de futebol. E assim o “bicho mordeu”.
Em Mangualde a corrida dos Infantis começara. O Rafael arrancou mal e ficara para trás, normal pela falta de experiência, mas lá ia recuperando lugares, passava pelo local onde eu estava e sempre a passar outros atletas, ao longe via-o a parar, inevitavelmente era ultrapassado e a cena repetiu-se uma e outra vez. Percebi claramente que estava com problemas na bicicleta. Vencedor determinado, também ele cruza a linha da meta, as lágrimas corriam-lhe pela cara. Pai nenhum pode ver um filho chorar e quando percebi a razão das lágrimas, mal me consegui aguentar que me acontecesse o mesmo.
Por erro meu, a corrente frequentemente saltou fora, uma e outra vez.
Teria sido fácil e aceitável, isento de culpa, poderia encostar e desistir, ninguém o poderia censurar. Mas invés disso, parou de todas as vezes, meteu a corrente ao sítio e voltava a recuperar lugares. Tudo, para não me desiludir, para não desistir, para não se sentir fraco, inevitavelmente a frustração veio no fim, em forma de lágrimas.
Em 2014 voltou ao Encontro Nacional de Escolas, desta vez em Almeirim, sem problemas mecânicos desta vez deu o seu melhor e eu nunca esperei outra coisa dele.
Enquanto treinador na escola de ciclismo onde o Rafael andava, sempre me inibi de dar treinos “privados”, apesar de ser meu filho sempre achei que justo, era tratar todos as crianças de igual forma e como tal o Rafael nunca teve tratamento diferente, isso levou-o a resultados medíocres e apesar de lhe encontrar sempre um sorriso e uma felicidade imensa por estar no seio da “caravana” do btt, comecei a perceber que também começava a frustar por não conseguir mais.
Com o meu desvinculo da escola de ciclismo, deixei cair o impedimento moral de poder dedicar atenção especial ao Rafael. Não porque procure um “campeão”, porque não procuro! Mas porque o ciclismo o faz feliz.
Em Mangualde o Rafael teve a atitude que eu espero de um verdadeiro ciclista: por maior que seja o sofrimento, a frustração, ou qualquer que seja a dificuldade, desistir não faz parte das opções.
Desculpem os demais, mas para mim, este é o melhor ciclista do Mundo! Apenas pela atitude 😉
É afinal de contas a atitude que define O ciclista.
Obrigado filhote por seres uma inspiração 🙂
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